sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Análise fílmica - Um percurso greimasiano

Por Profa. Rita de Cássia Ibarra

    Uma das formas de análise de um filme é a análise semiótica greimasiana. Esta análise é realizada através do quadrado das virtualizações possíveis em um determinado produto comunicacional, publicitário, jornalístico ou ficcional. O quadro tem uma função bastante adequada à análise fílmica.

Quadro 1: Quadro semiótico greimasiano.

    O quadrado se estabelece a partir das virtualizações SER - NÃO SER - PARECER - NÃO PARECER, as quais podem ser aplicadas à uma sequência narrativa ou ao percurso de uma determinada personagem.

    Ao longo do caminho a personagem faz ações que determinam seu modo de ser, que consequentemente se transformam em parecer. Ao mesmo tempo em que suas ações e revelações sobre seus motivos e personalidade mostram o não ser o não parecer, criando as diversas possibilidades de relação entre a personagem e sua busca interior e exterior, pois de um lado a personagem busca por sua identidade ou reafirmação sobre ela e, de outro lado, há a busca por uma pessoa ou objeto de seu percurso.

  • Relação de Contrariedade - Acontece quando se apresentam duas proposições opostas entre si.
  • Relação de Contradição - Acontece quando as proposiçoes são incompatíveis entre si.
  • Relação de Complementaridade - Acontece quando as ações se complementam.

    O caminho narrativo a ser seguido por uma das personagens deve ser escolhido para ser analisado e sua trajetória pode ser traçada a partir do percurso narrativo e dos estados a que se sujeita a personagem ao longo do percurso.

    O esquema aqui apresentado é uma adaptação do percurso do herói properiano, o qual traça o caminho da personagem em sua jornada. Dessa forma as etapas de análise resumidamente são: manipulação, qualificação, ação-performance e sanção.

    No film noir que serve de base para a análise de diversas obras que surgiram a partir de sua expressão estético-narrativa, a personagem que mais se destaca é o detetive durão enquanto protagonista, isto é, agente da ação. Na atualidade o detetive durão, que expressava o Private Eye ou detetive particular, tem-se ramificado em caçadores de criminosos, em versões masculinas e femininas, que pertencem à rede formal de combate ao crime ou de profissionais voltados para atividades investigativas.

  • A manipulação se dá quando outra personagem seduz ou impõe uma tarefa à personagem principal, movendo-a a uma ação.
  • A qualificação acontece ao longo do processo de decisão do fazer ou não fazer determinada ação. É neste processo que acontece a investidura da personagem para sua missão.
    Numa dessas duas etapas (manipulação e qualificação) é comum a apresentação ou doação de um objeto mágico à personagem principal, o qual a acompanhará ao longo de sua missão, orientando sua vontade, dando-lhe força ou relembrando seus objetivos ao longo do percurso.
  • A ação-performance acontece em cada momento em que a personagem se movimenta em direção ao seu objetivo e realiza provas que acontecem ao longo deste caminho para testar sua fidelidade, lealdade, motivação e comprometimento com sua causa.
  • E, por último, há a sanção quando a personagem recebe a recompensa por suas ações, que apresentam uma possibilidade de finalização de seu percurso.

    Nos film noir e seus congêneres e derivados há a possibilidade de se fazer esta leitura através da seguinte proposta de quadro:

Quadro 2: Roteiro analítico da personagem principal nos produtos relacionados ao film noir.
Adaptado da dissertação de mestrado - Profa. Ma. Rita de Cássia Ibarra.

    A aplicação da teoria greimasiana, assim como o modelo adaptado de Propp e as contribuições de diversos outros autores é possível para qualquer tipo de obra narrativa, podendo ser ficcional ou não. Contudo, o esquema e recorte aqui apresentados são mais adequados aos produtos do gênero noir e todos os produtos contemporâneos que têm releitura, intertexto ou estrutura narrativa similar.

Referências

GREIMAS, A.J. Semitórica plástica e semiótica figurativa. Significação - Revista Brasileira de Semiótica, Araraquara, n. 4-1984.

GREIMAS, A.J.; COURTÊS J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1984.

GREIMAS, A.J.; LANDOWSKI, E. Análise do discurso em ciências sociais. São Paulo: Global, 1996.

IBARRA, Rita C. Transmediações da estética noir. Dissertação de mestrado. Disponível em: http://repositorio.unip.br/dissertacoes-tesees-programa-de-pos-graduacao-stricto-sensu-em-comunicacao/transformacoes-transmediaticas-da-estetica-noir/. Acesso em 16 ago 2022.

PROPP, Vladmir. Morfologia do conto5o edição. Lisboa: Editora Vega, 2003.

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