segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Análise do filme "Elvis", de Baz Luhrmann

Elvis é espalhafatoso, exagerado e memorável
Por Anthony M. D. Muniz

Pôster oficial do filme Elvis
Foto: Reprodução/Instagram.

É interessante de se ver na carreira do diretor australiano Baz Luhrmann que ela apresenta uma admirável constância de tom: seus filmes são épicos, singulares e sempre se apresentam em escalas grandiosas. Em seus melhores momentos ele cria obras memoráveis como Moulin Rouge (2001), O Grande Gatsby (2013) e Get Dowwn (no caso dessa, uma minissérie extraordinária de 2016, presente no catálogo da Netflix). Em contrapartida, às vezes se rende a exageros desnecessários com em Austrália (2008), que se tornou notório pelo seu fracasso retumbante. Felizmente encontramos aqui possivelmente um de seus melhores trabalhos, isso porque toda a característica pirotécnica do diretor encontra respaldo na trajetória tão ascendente quanto decadente de Elvis Presley.

Acompanhando a vida do personagem título desde sua pobre infância, fortemente influenciada pelo que havia de mais potente na cultura afro-americana da época (naquele momento tão violentamente marginalizada), passando pelos seus dias de glória e fama até seus precoces e derradeiros anos de vida, o diretor busca mostrar aqui mais do que um retrato factual e distante dos anos de vida do cantor e, sim, um retrato puramente emocional e épico de uma figura singular. Mesmo que tal espetacularização não pareça inicialmente tão confiável, essa decisão estilística do diretor mostra-se acertada pelo fato de que uma personalidade como a de Elvis Presley (que existiu quase como um zeitgeist americano de toda uma geração) não funcionaria com o público tão facilmente, já que uma conexão humana e vulnerável com Elvis seria de difícil acesso.

Com isso, o diretor nos implanta na mente de seu cruel empresário, que utiliza e abusa do cantor como uma fortuna qualquer intercambiável; e, em contrapartida, somos apresentados a um Elvis que é frágil, intenso, ingênuo e muito relacionável e, desde o momento de sua primeira apresentação percebemos a inevitável mudança que ele representa. Essa intensa mudança é brilhantemente apresentada pelo diretor, de forma desavergonhada, já que ele busca, através da direção de fotografia e da edição de som, construir as cenas de apresentações e shows de maneira que passem longe de serem enfadonhas ou "velhas", com a intenção de causar uma reação no público semelhante à que o próprio cantor causava nos seus anos de estrelato. Claro que tal sensação não teria nem metade do impacto causado se não fosse pela belíssima interpretação do jovem ator Austin Butler, que encarna a figura com desenvoltura e intensidade, apresentando muitas nuances numa performance que poderia ter ficado facilmente caricata.

Toda essa força dos dois primeiros atos é muito bem contrastada no ato final, que mostra a trágica derrocada do protagonista. Deve-se saber que há muito melodrama por todo o percurso do longa-metragem, ainda que seja melodrama de qualidade, sem dúvida. Essa obra apresenta algo muito característico de uma obra de um diretor interessante e autoral, que á a percepção de que todos os defeitos pelo caminho do filme mais o engrandecem do que o diminuem. Certamente merece atenção.

Disponível para os assinantes do HBO Max e em demais plataformas digitais de aluguel.







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